sábado, 17 de novembro de 2012

Things We Didn't See Coming


Para Nathália.


     “Porque forma”, ela pensou enquanto sugava do beck na boca, tentando se lembrar do que queria dizer no bar.
     “O quê?”, o estranho – tinha esquecido o nome dele – tinha perguntando então, mas agora suas mãos tiravam devagar o seu sutiã diante do espelho do seu quarto. E disse, alisando com o dedo todo o seu corpo com suas estrias e elevações e inesperados declives: “Você é linda, sabia?”.
     Mas ela apagou o beck rápido, empurrou-o sobre a cama e sentou-se em cima dele – porque forma, ela pensou – fazendo força sobre o seu corpo enquanto o volume crescia sob a cueca até ela–

(Ah, sim:
“Não tenho camisinha”, ele disse, sorrindo.
“Tenho pílula do dia seguinte”, ela ofegou.)

–segurá-lo entre os dedos e encaixá-lo todo dentro de si. Ele envolvia os seios na palma das mãos – porque forma, ela pensou – enquanto ela subia-descia-batia-sobe-desce-bate-sobe-desce-bate-de-re-pen-te: ___________.
     Porque forma, ela pensou, se desenroscando dos braços dele e indo até o banheiro sem fazer barulho, para não acordá-lo. Sentou-se na privada e pegou o livro que andava lendo – Things We Didn’t See Coming – enquanto o xixi escorria. Ao levantar-se, um papel que estava entre as páginas caiu no chão. Pegou, leu-o e riu: a porra dele rodava descarga abaixo junto com o xixi. Porque forma, ela pensou, é conteúdo sócio-histórico decantado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

     Lembra-se quando éramos crianças e jogávamos bola no quintal de casa e a bola caía no quintal do vizinho? Era o fim se ela caísse, pois sabíamos que ele não devolveria. E costumávamos ficar sentados perto do muro do quintal até a noite chegar, imaginando a bola ainda lá, muito distante sob o sol que se punha no final da tarde, entre a grama mal cortada e sob a sombra de uma árvore, abandonada. Nunca mais a veríamos. E ainda que pedíssemos a mamãe pra pedir a ele que nos devolvesse, ela não ia, não ia. Sabia que ele não devolveria. Mas o maior problema hoje, eu vejo, era que toda vez que a bola lá caía ela nos surpreendia no dia seguinte com uma nova... Nos acostumamos com isso. E agora, que crescemos, a cada bola que jogamos no quintal do vizinho, sem querer ou não, não importa, esperamos no dia seguinte uma nova – mas ela não vem, não vem.