quarta-feira, 21 de agosto de 2013


Para Bruna.


     "Mas acho que o que eu mais quero", ela disse, "é que as pessoas sintam quando lerem meu mangá", e virou-se mais para si mesma do que para a quem dizia: "Eu sei que cada uma vai sentir algo diferente, mas, enfim", e suspirou, tirando um cigarro do maço. "Não sei explicar isso", acendeu-o, "mas deixa eu ver", tragou fundo e lentamente, olhando para a luz amarela do abajur que envolvia os dois ali, soltou a fumaça. "Sabe quando você lê alguma coisa, ou ouve alguma música, e você se sente abraçado por elas?" A fumaça do seu cigarro circulava entre eles, sob o círculo de luz. "Tipo quando eu leio Cecília Meireles, eu me sinto muito abraçada pelas palavras dela, e por ela. Eu sei que é meio estranho", e parou, observando a fumaça dissipar-se no ar. "Mas até mesmo quando escuto algumas músicas eu sinto essa sensação de abraço." E então, encostando-se nas almofadas, com o cigarro pendendo abandonado entre os dedos, fechou os olhos e viu a luz amarela fixada em suas retinas. "Agora, por exemplo, eu tô escutando uma que me faz sentir assim."