E ali ele se prostava nu e pálido, as pálpebras fechadas enquanto as luzes verdes azuis vermelhas amarelas deslizavam pelo seu corpo. E de suas mãos estendidas dolorosas flores se derramavam em abundância – oferendas do seu próprio sacrifício. Era como uma figura num vitral; ninguém duvidaria de que ele estava ali para redimir a humanidade de seus pecados.
“Venham colher das minhas flores.”
Um dia, é claro, vieram. Mas sem cuidado. Pois se colocando assim tão rico, tão aflorado e abundante, o seu corpo era um imenso jardim, à espera de um jardineiro que não plantava, que não podia plantar: era sempre tempo da colheita. Vivia, sim, numa eterna primavera. E como tal, estendido enquanto se sentia ser deflorado até o fundo – Cristo-passivo –, quando ele se foi tornou-se terra seca e dura, além do poder restaurador de qualquer outra estação.